segunda-feira, 12 de abril de 2010

COMUNHÃO CONSIGO MESMO




1. INTRODUÇÃO

Um aspecto importante da vida em comunhão consiste em como nós enxergamos a nós mesmos. Isso irá determinar o nosso relacionamento com o nosso próximo, e pode ainda afetar a forma como vemos a Deus e nos aproximamos dele. O segundo mandamento, amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mt 22.39), expressa exatamente esta idéia: a qualidade do seu amor aos outros depende do quanto você ama a si mesmo.

2. CONHENDO A SI MESMO

2.1. Conhecendo minha natureza
Geralmente quando nasce uma criança alguém diz: “É um anjinho!”. Mas será mesmo? A Bíblia diz que todos pecaram (Rm 3.23). O salmista Davi disse que em pecado ele foi concebido (Sl 51.5). Essa, portanto, é a nossa condição: somos pecadores. Não temos como negar essa realidade. Nossos pensamentos, palavras e atitudes estão mostrando o tempo todo que nossa natureza corrompida. Em Gênesis 6.5 diz que a imaginação do coração do homem é má continuamente, o capítulo 8.21 acrescenta: “desde a meninice”. Portanto, não nascemos anjinhos, mas “pecadorzinho”. Nascemos com todas as potencialidades para pecar, esperamos só uma oportunidade para isso.

2.2. Conhecendo nosso “coração”
Conhecer nosso coração não é tarefa fácil, nem tampouco agradável. Em Jeremias 17.9 o profeta nos diz que o coração humano é enganoso, mais do que todas as coisas, além disso, ele é perverso; quem pode conhecê-lo? Jesus afirmou que é do coração do homem que saem toda espécie de pecados: homicídio, adultério, prostituição, roubo, mentira, calúnia, etc.(Mt 15.18-20). O autor de Provérbios diz-nos para guardar o coração, pois dele procedem as saídas da vida (Pv 4.23). A versão Bíblia Viva expressa melhor essa idéia: “Acima de tudo, meu filho, tome cuidado com suas emoções porque elas afetam toda a sua vida”. É por isso que no mesmo livro de Provérbios Deus pede: “dá-me o teu coração” (Pv 23.26). Podemos traduzir assim: Deixe que os meus conselhos, minhas instruções te guiem no caminhão da retidão, não siga os seus impulsos, suas emoções.
“Nossas emoções nos fazem conhecer quem somos e nos levam a fazer as coisas que fazemos”.[1]

2.3. Duas Naturezas
Antes de experimentarmos o novo nascimento operado em nós mediante o Espírito Santo éramos dominados pelo pecado, pela carne (Rm 7.5); estávamos mortos em nossos delitos e pecados (Ef 2.1). Mas um dia algo extraordinário aconteceu em nossa vida, pela misericórdia e amor de Deus, não por sermos justos, Ele nos salvou por meio do Seu Espírito, que foi derramado em nós por Jesus (Tt 3.4-7; Ef 2.8-10). Na Bíblia isso é chamado de “novo nascimento” (Jo 3.3,7), “nova natureza” (2 Pe 1.4), “novo homem” (Ef 2.15; 4.24), “nova criatura” (2 Co 5.17; Gl 6.15). Tudo se torna novo.
Parece estranho, mas esta nova natureza não eliminou a natureza pecaminosa que antes nos dominava. Agora temos duas naturezas opostas entre si. Deus permitiu que isso fosse assim para que continuássemos a usar a liberdade com que nos criou. Somos livres para escolher pecar ou não pecar (Leia Gálatas 5).

2.4. Examine a si mesmo
Conhecer a nossa natureza é um exercício que nos ajuda a entender porque agimos como agimos. Nos capita ainda a sermos humildes. Quando fazemos isso percebemos o quanto somos dependentes de Deus e quão miseráveis somos sem Ele.
Quando começamos a examinar o nosso próprio coração, isto é, a nossa natureza, perceberemos quais traços do nosso caráter precisam ser mudados, que hábitos devemos deixar, quais pecados precisamos abandonar. Não é à toa que a Bíblia nos convida a examinarmos a nós mesmos (2 Co 13.5; 1 Co 11.28).
Ao se fazer este auto-exame, ao invés de pedirmos e exigirmos que os outros mudem, a mudança começará a partir de nós mesmos.
“Quase sempre nos queixamos dos outros. Mas se quisermos a paz, temos de começar por mudar nós mesmos, evitar as pequenas e as grandes guerras sem esperar que os outros mudem.” (Albano Nogueira)
3. Amando a si mesmo
Sem uma correta compreensão de nós mesmos não conseguiremos amar-nos de forma equilibrada. Quando isso não ocorre podemos pender para um dos dois lados: ou caímos num complexo de inferioridade, nos achando as piores pessoas do mundo, ou adotamos uma postura narcisista em que nos tornamos o centro do universo idolatrando a nós mesmos. Essas duas tendências, portanto, desviam as pessoas do verdadeiro amor a si mesmo. Vejamos abaixo algumas implicações do amar a si mesmo:
3.1. Quando experimentamos o gracioso amor de Deus somos capazes de amar a nós mesmos. Mesmo sendo nós miseráveis pecadores, Deus nos amou dando-nos Seu Filho para morrer em meu lugar (Rm 5.8; Jo 3.16). Como não amaria alguém que me ama tanto!
3.2. Ter sido feito imagem e semelhança de Deus é um grande motivo para nos amarmos. Somos a coroa da criação, formados pelas mãos do próprio Deus, é isso que nos torna especiais.
3.3. Só é capaz de amar a si mesmo aquele que reconhece quem ele é. A natureza pecaminosa que insiste em querer comandar a nossa vida é mortificada a cada dia pela presença do Espírito de Deus em nós.
3.4. Aquele que ama a si mesmo sabe qual o seu objetivo neste mundo: Amar outras pessoas. Amar a si mesmo não é egocentrismo. “Quando disse: ‘Ama o teu próximo como a ti mesmo’, Jesus estava explicando que só pode amar os outros quem se ama. O amor a si mesmo não pode estar separado do amor aos outros; um depende do outro.” [2]
3.5. Amar a si mesmo não é narcisismo. Existem pessoas que são tão apaixonadas por elas mesmas que chegam ao ponto de desprezar os outros. Pessoas assim julgam-se grandiosas e possuem necessidades de admiração e aprovação de outras pessoas em excesso.
3.6. Aquele que ama a si mesmo tem o poder de se transformar. Ele não se conforma com o pecado, não permite que os maus hábitos interfiram em seus relacionamentos interpessoais. Pelo fato de se conhecer, ele possui domínio próprio, capaz até mesmo de domar seus temperamentos e sua personalidade, visando o bem estar da coletividade.
3.7. Quem ama a si mesmo, ama a Deus acima de todas as coisas inclusive dele mesmo. O primeiro mandamento precisa ser sempre o primeiro: AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS. Jesus disse que quem amar pai, mãe, irmãos, mulher, filhos, mais do que a Ele não é digno dele (Mt 19.29; Lc 14.26). A prioridade é sempre dele.

4. CONCLUSÃO
Conhecer a si mesmo é imprescindível para estabelecermos um melhor relacionamento com nós mesmos e com os outros. Quando reconhecemos a existência de uma natureza corrompida pelo pecado em nós e permitimos que a graça de Cristo entre em nossa vida, perdoando-nos e renovando-nos, somos conduzidos a uma nova visão de nós mesmos e dos outros. Tornamos-nos mais dependentes de Deus e mais aptos para amar o nosso próximo, pois nos identificaremos com eles.

REVISÃO
1) Porque é importante conhecer a nossa própria natureza?
2) O que significa amar a si mesmo?
[1] BAKER, Mark W. Jesus, o maior psicólogo que já existiu. Rio de Janeiro: Sextante, 2005. Pg. 124.
[2] Idem, pg. 185.