“Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (João 14.9)
Conhecer faz parte da natureza humana desde o nascimento. O conhecimento se dá nas intereções com o meio ambiente em que somos criados. Enquanto conhecemos estamos nos fazendo. Por meio do conhecimento compreendemos as relações entre sujeito/objeto, homem/razão, homem/desejo ou homem/realidade. Existem diversos tipos de conhecimento: conhecimento empírico (vulgar ou senso comum), conhecimento filosófico, conhecimento teológico e conhecimento científico.
O conhecimento empírico surge da relação do ser com o mundo. Todo ser humano apodera-se gradativamente deste conhecimento, ao passo que lida com sua realidade diária. Não há uma preocupação direta com o ato reflexivo, ocorre espontaneamente. É um conhecimento do tipo abrangente dentro da realidade humana. Não está calcada em investigações.
O conhecimento filosófico surge da relação do homem com seu dia-a-dia, porém preocupa-se com respostas e especulações destas relações. Não é um conhecimento estático, ao contrário sempre está em transformação. Considera seus estudos de modo reflexivo e crítico. É um estudo racional, porém não há uma preocupação de verificação.
O conhecimento teológico preocupa-se com verdades absolutas, verdades que só a fé pode explicar. O sagrado é explicado por si só. Não há importância a verificação. Acredita-se que o conhecimento é explicado pela religião. Tudo parte do religioso, os valores religiosos são incontestáveis.
O conhecimento científico precisa ser provado. O conhecimento surge da dúvida e comprovado concretamente, gerando leis válidas. É passível de verificação e investigação, então acaba encontrando respostas aos fenômenos que norteiam o ser humano. Usa os métodos para encontrar respostas através de leis comprobatórias, as quais regem a relação do sujeito com a realidade.
O que significa conhecer? Conhecer não é se intrometer na vida alheia. Não é bisbilhotice. Não é boato. Não conhecemos verdadeiramente pelo que os outros nos dizem, mas pelo encontro pessoal que temos com o outro. Conhecer, portanto, é relacionamento.
Conhecer está relacionado primeiramente com o quanto somos capazes de falar acerca da pessoa que conhecemos. Não conhecer apenas, por exemplo, sua idade, o tamanho do seu manequim, aonde mora, onde trabalha, quanto ganha, qual o seu grau de instrução, qual a sua altura, seu peso... Enfim, não um mero conhecimento matemático, estatístico. Conhecer é também, e principalmente, saber as qualidades da pessoa, qual a comida que o outro mais gosta, seus hábitos, seus hobbies, seus sentimentos, suas alegrias e tristezas... Conhecer é participar da vida do outro. Conhecer é conviver. Não se constitui num saber superficial, mas é mergulhar num relacionamento sincero com o outro. .
Conhecer a Jesus, nesse aspecto, portanto, é o relacionamento que estabelecemos com ele em todas as esferas da nossa vida, não apenas nesse tempo presente, mas por toda a eternidade.
Vejamos algumas implicações de se conhecer a Jesus:
I) Jesus revela em si mesmo a pessoa do PAI. (Hb 1.3) Quem conhece a Jesus, naturalmente conhece o PAI. É impossível chegar-se a um sem necessariamente passar pelo outro. Só é possível chegar a Deus através de Jesus, assim também só é possível chegar a Jesus pela intervenção divina, isto é, Deus dar-se a conhecer ao homem através da pessoa e obra de Jesus (Jo 14.6,7).
II) Conhecer Jesus é muito mais que uma questão de TEMPO. É uma questão de confiança. (Jo 14.9). A quantidade de tempo que temos com uma pessoa diz muito pouco acerca dela. O relacionamento, a intimidade, é fator primordial. Os discípulos andaram com Jesus durante três anos, e ainda assim não o conheciam , como DEUS. Ter muito tempo na igreja não diz muito tempo sobre o nosso relacionamento com Deus, e sim o quão intimo somos dele. O conhecimento de alguém vem com o tempo, é bem verdade, no entanto, quanto mais conhecemos o outro somos capazes de conhecer a nós mesmos. É assim com relação a Deus (JESUS), quanto mais conhecemos a Deus mais conhecemos a nós mesmos, e aqui está o grande problema. Quando a luz de Jesus brilha em nosso coração e percebemos quem nós realmente somos, temos a tendência de ignorar a luz para aliviar a angústia que ela provoca.
III) O conhecimento que o crente (cristão) tem acerca de Jesus não é (nem pode ser) um conhecimento teórico, ou superficial; mas espiritual e profundo (Jo 14.17). O Espírito Santo produz em nós o verdadeiro conhecimento a respeito de Deus-Jesus, pois Ele habita em nós, convencendo-nos do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8ss), guiando-nos na verdade (Jo 16.13), nos ensinará todas as coisas e nos fará lembrar de tudo aquilo que Jesus fez e ensinou (Jo 14.26). Sem o lavar regenerador do Espírito Santo continuamos alheio a Deus e a sua vontade (Tt 3.4-7).
IV) Conhecer Deus-Jesus, implica em cumplicidade (Jo 14.20). Deus-Jesus-Nós. Jesus conhece a Deus, portanto, torna-se um só com Ele. Se nós conhecemos a Jesus nos tornamos um só com Ele. Isso significa que a nossa vida deixa de ser de nós mesmos para ser dele. Nós o imitaremos. Faremos as mesmas obras que Ele fez, até maiores (Jo 14.11,12). Conheceremos a sua vontade e pediremos(falaremos) a(com) Ele segundo a sua vontade e não a nossa (Jo 14.13,14; cf. 1 Jo 5.14ss). acima de tudo, guardaremos toda a sua Palavra, praticando-a (Jo 14.15,21,23,24).
Conhecer Jesus é uma experiência transformadora. Cada passo que damos ao Seu lado aprendemos mais acerca do Seu caráter, e também conhecemos muito mais a nós mesmos. Conhecendo Jesus, isto é, estando em um relacionamento profundo com Ele, minha mente e meu coração são desvendados diante Dele. Percebo minha natureza corrompida, e o quanto sou miserável, e isso dá-nos a consciência de quanto dependemos da Sua graça. Conhecer Jesus nos faz lembrar que somos humanos, pecadores, mas ao memso tempo nos remete à vida do nosso Mestre, que "não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se" (Fl 2.6), que se "tornou carne e habitou entre nós" (Jo 1.14), que "em tudo foi tentado, mas sem pecado" (Hb 2.17; 4.15). E é isso que nos motiva a continuar prosseguindo em conhecê-lo ainda mais.