terça-feira, 20 de março de 2012

Sem[i] Deus[es]

A igreja evangélica basileira há muito tempo vem criando seus semi deuses. Homens e mulheres super poderosos, com uma capacidade divina (ou diabólica?) que, com doações de fiéis para os seus projetos megalomaníacos, tornam-se quase [in]tocáveis. Digo [in]tocáveis pois enquanto alcançam um status divino, transcendente, rebem de deus (ou dos deuses?) o poder quase absoluto sobre os mortais. Como Deus, recebem o poder de dar a vida e tirar a vida (mais tiram do que dão). Abençoam e amaldiçoam não com a benção sacerdotal, mas com a autoridade de um ser todo poderoso.
Esses semi deuses sentam-se no trono de Deus (ou do D...o?) como se fosse o próprio Deus. Eles encontraram um meio de se imortalizarem (cd's, dvd's, livros [será que são eles mesmos os autores?]). Encontraram uma forma de toranrem-se onipresentes: as mídias eletrônicas. São vistos nos quatro cantos da terra, sua voz ressoa retumbante aos ouvidos mais incultos, movendo os corações dos fiéis a uma idolatria sem precedentes na história.
Onipresentes, onipotentes, imortais. Semi Deuses.
Não é fácil, porém, ser um semi deus. Custa caro. Manter um programa de TV de uma hora semanal, ou uma rede de televisão 24 horas custa muitíssimo caro. Alguém precisa pagar essa conta... Claro, os adoradores.
Custa caro manter a imagem de semi deus. Carros de luxo, jatinhos, helicópteros, merchandising, marketing pessoal... Alguém precisa pagar essa conta... Os fiéis.
Não é pecado, nem crime manter um programa na TV... É louvável e deve ser apoiada! Mas, o que me intriga e incomoda são as consequências funestas de homens e mulheres que tem se utilizado da fé das pessoas para atingirem seus interesses pessoais e com suas atitudes zombam o bom nome de Cristo.
Quando uma igreja ou um líder compra um horário ou uma rede de TV isso é uma faca de dois gumes. Primeiro o "evangelho" está sendo pregado. Milhares de pessoas estão ligadas diariamente ouvindo as "boas novas". A sua igreja está sendo reconhecida e respeitada. Milhares de pessoas irão frequentar os seus cultos. Isso é "maravilhoso"!
Do outro lado temos um abismo chamado soberba. É nesse abismo que igrejas e pastores caem. Os compromissos finaceiros gerados pelos custos de manutenção do programa no ar e toda a logística resultante geram despesas exorbitantes, esses compromissos precisam ser cumpridos. A partir daí começa os apelos e apelações aos fiéis e "infiéis" que contribuam para a manutenção do programa e/ou da rede de TV. Assim, grande parte do tempo passa a ser destinado à motivar as pessoas a ofertarem, a fazerem sacrifícios de fé, a desafiarem a Deus, isto é, cada vez mais usam uma linguagem piedadosa religiosamente marcada pela necessidade da arrecadação. Aqui não se fala em milhares, mas em milhões de reais (ou dólares), e quanto mais milhões se investe nessa lógica mercadológica, milhões precisam se lucram. É aí que está o grande problema. A sedução dos milhões.
A sedução dos milhões desvia os líderes das mega igreja-empresas, transformando pastores em empresários, cujo negócio lucrativo (a fé (ingenuidade) dos fiéis) lhes rende grandes dividendos, não no reino celestial, mas no reino dos homens; adquirem mansões não na Nova Jerusalém, mas nos bairros nobres das grandes metrópolis. Estão seguros, não pelos anjos de Deus, mas por seguranças fortemente armados (armados para caçar?).
Acerca desses semi deuses podemos parafrasear o texto bíblico: "Todo "poder" eles usurparam dAquele que criou o céu e a terra". Cristo perdeu a centralidade. Não se ora a Cristo, pede-se ao apóstolo, ao missionário, ao bispo... A fé não está na eficácia da cruz de Cristo, mas na igreja A, na igreja B, na igreja C... O valor não é o sangue do Cordeiro, mas é medido em R$ ou US$... Pecado, inferno, não são assuntos agradáveis... bênção, prosperidade, são mais interessantes. Não importa o caráter do líder, não importam as evidências de um caráter reprovável autenticada por provas incontestáveis... Os fins justificam os meios.
Esses semi deuses, são guiados pelo seu ventre, e não pelo Espírito de Deus. Eles não conseguem ver "Deus" em outro lugar senão neles e na sua instituição. Importa que o seu reino cresça, e que Cristo diminua. Jesus disse à igreja dos laodicences, e repete hoje às igrejas dos sem(i) deus(es): "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo" (Ap 3.20).