sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

IDOLOS DE SI PARA SI MESMOS


A idolatria é um modo "seguro" que a mente humana criou para negar a Deus e fugir da Sua ira. Não ha explicação mais razoável do que esta. Os seres humanos vivem num paradoxo, ao mesmo tempo em que anseiam por Deus, Dele estão sempre fugindo, escondendo-se.
Anseiam por Deus pois são suas criaturas, feitos à Sua imagem e semelhança, formados para um relacionamento de comunhão e intimidade com Ele. Fogem Dele pois os seus pecados são ofensivos à santidade de Deus. Consciente, ou inconscientemente, os seres humanos sabem disso, mas preferem o prazer, a satisfação proporcionada pelo pecado, pois o pecado produz uma falsa sensação de liberdade, o pecado produz a ilusão da auto-suficiência.
Os deuses criados pela engenhosidade humana são criações, copias mal acabadas dos próprios seres humanos. É um modo de firmarem-se indiretamente em si mesmos. Os deuses, e toda espécie de criação idolátrica é uma adoração de si para si mesmo. O alter ego da humanidade caída é transferido para a imagem (ídolo), onde ele mira e se admira. Podemos afirmar, portanto, que a idolatria é uma espécie de narcisismo velado (ou escancarado?). Ele vê-se no ídolo, ao mesmo tempo em que o ídolo é visto por ele.
Por seu caráter narcisista a idolatria falha no seu propósito de fazer com que o homem encontre a si mesmo e se reencontre com Deus. Como o Narciso da mitologia, o ser humano não consegue enxergar alem dele mesmo, é egoísta, presunçoso, vaidoso, arrogante, isto é, centraliza em torno de si o ser e o existir, até mesmo seus atos de bondade (quando existem), tem em vista a autopromoção. Os sacrifícios, as oferendas, todo ritual em torno do ídolo, na verdade constitui-se num culto a si mesmo. O seu fim, como o de Narciso, é o afogamento em seu próprio EU.
Nessa tentativa de compensação da sua natureza corrompida, na elaboração de artifícios que mascaram a sua real condição de miserável pecador, o afastamento de Deus se agrava. Não satisfeito o ser humano entra numa aventura quase sem volta à procura de outros ídolos que lhe dêem respostas, que saciem seu anseio pela divindade. Não encontrando em seu próprio ídolo (imagem/EU) vão à busca de outros ídolos, do mesmo modo imagens corrompidas de si mesmos, criados por outros seres humanos vazios de si mesmos perdidos em seu próprio Eu. Aqui, os ídolos não apenas madeira, ou pedra entalhada, mas se corporificam em outros seres imiscuindo-se na tentativa de formar um com o outro semelhantemente vazio de si mesmo, a prostituição em todas as suas acepções constituem formas de tentar unir-se à "divindade" do outro. Além disso, toda espécie de materialismo constitui-se em endeusamento das coisas, o corpo animado (de alma) unindo-se à matéria inanimada, alguma coisa apegando-se ao nada.
Numa fuga frustrante de Deus, o ser humano cada vez mais se perde na confusão idolátrica. Como no labirinto do minotauro, quanto mais se procura a saída mais se vê perdido. Como Dédalo e Ícaro, fazem para si asas, com penas coladas com cera, mas no afã, como o jovem Ícaro, se empolga e mais uma vez quer tocar o Sol, tentativa frustrada. A cera derrete, as penas se vão.
A idolatria é uma tentativa frustrada de fugir da ira de Deus. O que o ídolo pode fazer por aqueles que se prostram perante eles, senão "ouvi-los" passivamente e "responder" afirmativamente a todos os desejos e vontades humanas? O ídolo é manipulável. Como os seres humanos, os ídolos são corruptos por natureza.
Na idolatria se busca um deus amoroso sem justiça, um deus misericordioso que não se ira, um deus que perdoa sem disciplinar, um deus que atende a todas as petições sem questionar, um deus que vê sem julgar, um deus que sempre afaga e nunca usa a vara quando necessário, um deus que se contenta com sacrifícios de tolos, um deus que se carrega nos ombros e não no coração, um deus que é moldado mas que não muda o caráter dos seus adoradores.
Por isso os ídolos são tão festejados e adorados (venerados?). Eles nos permitem viver na ignorância, na ilusão. Os ídolos em si não se importam com o que fazemos ou deixamos de fazer, são imparciais, não se envolvem, apenas refletem o anseio do homem em encontrar-se e ser reconciliado por Deus.
Não posso concluir sem antes afirmar que aqueles que não constroem ídolos visíveis, de pedra, ouro, madeira, gesso, de carne e osso, ainda assim são idolatras, constroem suas imagens mentais, suas projeções baseadas em seus anseios e desejos egoístas, logo idolatras. O ateísmo é um modo ainda mais perverso de idolatria. O ateu não aceita outra imagem a não ser a dele mesmo, ele se basta. Ele não é humilde nem mesmo para se curvar diante de uma imagem visível dele mesmo, quanto mais de um Deus invisível. O ateu está o tempo todo tentando justificar-se diante de Deus negando-o. O modo que ele encontrou para expiar seus pecados foi através de uma incredulidade racionalizada. "Se Deus não existe não tem por que me culpar, logo sou livre. Se Deus não existe, logo não ha pecado. Se Deus não existe não existe nem o bem nem o mal". Essa lógica foi criada no Éden pela serpente, repetida hoje de forma mais sofisticada, filosoficamente fundamentada. É a idolatria de sempre, desnuda. É a idolatria sem ícones. Vazios de Deus, perdidos, sem direção.
Não existe outro modo de o ser humano encontrar-se a si mesmo e ser reconciliado com Deus. Não existe modo mais seguro de o ser humano livrar-se desse ciclo perverso de auto-justificação (o que é na verdade, uma auto-comiseração), do que deixando de enxergar a si mesmo, destruindo os seus ídolos criados ao longo da historia na tentativa insana de encontrar Deus a partir de si mesmo e de outras criaturas vazias, e mirar em Deus por meio do único sacrifício capaz de trazer a redenção a toda humanidade perdida em seus pecados, cujo pecado maior é a negação idolátrica de Deus, somente Jesus reflete toda a gloria de Deus, e somente Ele é capaz de eficazmente promover a paz entre o homem e Deus, aplacando a ira de Deus sobre os nossos pecados e nos tornando definitivamente Seus filhos.